No
mês de combate à mortalidade materna, comemorado em 28 de maio, nós, mulheres
brasileiras, devemos celebrar uma importante conquista dos movimentos
feministas: a equivocada Medida Provisória nº 557/2011 perde hoje, dia 31 de
maio, a sua validade.
A
MP, editada pelo Governo Dilma em 26 de dezembro de 2011, visava instituir o
cadastro compulsório das gestantes para supostamente garantir a saúde da mulher
e do nascituro. Além disso, ela previa o pagamento de um auxílio-transporte ao
pré-natal, no valor de R$ 50.
A
justificativa era reduzir a mortalidade materna, que possui taxas elevadíssimas
no Brasil. Em 2010, foram registradas 68 mortes maternas para cada 100 mil
nascidos vivos. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) o máximo deveria ser
de 20 casos de morte materna a cada 100 mil nascimentos. Reduzir a mortalidade
materna é uma das metas do milênio, que dificilmente será cumprida pelo nosso
país até 2015, já que a queda tem sido lenta nos últimos anos.
Desde
que a Medida foi editada, sem nenhum diálogo com a sociedade civil comprometida
com o tema, os movimentos feministas e de mulheres, assim como setores da saúde
coletiva e de direitos humanos, têm se mobilizado e feito duras críticas para
impedir sua aprovação. Isso porque, ao contrário do que se propõe, a MP não é
capaz de combater a mortalidade materna.
O
texto enviado ao Congresso Nacional não dialoga com agenda dos direitos sexuais
e direitos reprodutivos, tampouco com as estratégias já construídas
coletivamente, como o Plano Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PNAISM), de 2004.
Ademais,
entendemos que a vigilância epidemiológica é pertinente e relevante, mas deve
se voltar aos serviços de saúde e não às mulheres, o que viola o direito à
privacidade e ao sigilo. É importante ressaltar que o problema da mortalidade
materna no país está principalmente na falta de qualidade dos serviços e do
atendimento prestado às mulheres gestantes e não no acesso ao pré-natal, que
tem aumentado significativamente no país. As mulheres estão morrendo dentro dos
hospitais e das maternidades!
Entre
o conjunto de erros trazidos no bojo da Medida está também o financiamento da
bolsa a partir da aplicação de recursos da saúde para uma ação típica de
assistência social.
Outro
ponto problemático era a figura do nascituro no texto original da legislação,
que representava um grave retrocesso aos direitos já conquistados pelas
mulheres, ao inviabiliza o atendimento daquelas que tivessem decidido
voluntariamente interromper a gravidez, inclusive nos casos permitidos por lei.
Em janeiro de 2012, a presidenta Dilma Rousseff reconheceu o erro e reeditou a
MP, retirando o artigo do nascituro, após muita pressão. Apesar de a mudança
representar uma primeira vitória dos movimentos feministas, ela ainda era
insuficiente.
Ao
chegar ao Congresso Nacional, conforme havíamos alertado, a Medida recebeu 114
emendas ao seu texto, algumas positivas e outras ainda piores, que traziam
inclusive a figura do nascituro novamente. Assim, todas as demais falhas
apontadas na Medida se mantiveram presentes, com o risco de serem votadas e
tornadas lei por bancadas comprometidas com o conservadorismo religioso e
moral, sedentas por cargos no governo federal e sem nenhuma preocupação com a
vida e a saúde das mulheres.
Diante
disso, os movimentos feministas intensificaram uma verdadeira jornada contra a
MP 557, por meio de inúmeras manifestações públicas, notas de repúdio,
mobilizações nas redes sociais, reuniões com membros do governo federal e
parlamentares, com o Conselho Nacional de Saúde e em especial com a Comissão
Intersetorial de Saúde da Mulher.
Por
isso, hoje, sem a votação da Medida Provisória 557/2011 e com a consequente
perda de sua eficácia, parabenizamos todas e todos que lutaram para esse
resultado, e aproveitamos para celebrar a força dos movimentos feministas
lembrando que não aceitamos quaisquer
medidas que ameacem e retrocedam nossos direitos reprodutivos. Lutamos por
políticas públicas de saúde que respeitem nossa autonomia, com ênfase na saúde
integral das mulheres!
Kauara
Rodrigues, cientista política e assessora do Centro Feminista de Estudos e
Assessoria (Cfemea)
No hay comentarios:
Publicar un comentario