Reunimos em tópicos a essência das críticas recebidas
e compartilhamos nossos argumentos. Senta, que lá vem textão.
“NÃO HOUVE ESTUPRO”
Quando um repórter presencia um assalto na rua, ele não
sai correndo atrás do ladrão para perguntar se ele efetivamente furtou alguém.
Nem liga para a autoridade policial para confirmar o que viu. A notícia é o
relato da cena que o jornalista presenciou. Podemos fazer um paralelo com este
caso. A origem da notícia foi um vídeo no qual uma jovem desacordada é
manipulada por homens que abrem suas pernas, filmam sua vagina, seu ânus,
zombam do estado da menina, em especial de suas partes íntimas, dizendo que
mais de 30 passaram por ali. Como qualquer ato libidinoso cometido contra
alguém que, por qualquer motivo, não pode oferecer resistência é estupro, o
EXTRA tratou o estupro como estupro. Portanto, não foi nem o caso de
"comprar a versão da vítima", ou "defendê-la", porque, na
primeira vez que o caso foi noticiado, sequer sabíamos quem era a jovem.
“ELA TAMBÉM NÃO É SANTA. TEVE O QUE PROCUROU"
Não existe no Código Penal um capítulo para crimes
sexuais chamado "Viu? Bem feito!". Crime é crime. E nem a lei prevê
anistia para crimes com base no conceito moral que temos de quem sofre o abuso.
Ah! E não existe estupro em legítima defesa. A vítima, pode sim, não ser santa.
Essa é uma decisão dela.
“FOI ORGIA, SURUBA, E NÃO ESTUPRO”
Fazer sexo em grupo não é crime. No entanto, é preciso
que o ato seja consentido e com os participantes conscientes. No vídeo, a jovem
aparece desacordada. Por isso o estupro está configurado naquelas imagens. É
importante lembrar: a Polícia Civil apura o que aconteceu antes da gravação
para descobrir se outras pessoas, que não aparecem no vídeo, também a
violentaram - e não para saber se a menina de 16 anos é adepta a orgias, o que
não importa a ninguém.
“ELA NÃO PRESTA, TEVE FILHO AOS 13 ANOS”
Transar com uma menina de 13 anos é estupro também.
Quando engravidou, ela foi violentada por um traficante pela primeira vez.
"E ELA NÃO VAI RESPONDER POR ASSOCIAÇÃO AO
TRÁFICO?"
Aos fatos: o EXTRA apurou que a jovem era viciada em
drogas e andava com traficantes. Se ela cometeu algum ato correlato a crime no
seu passado (não há notícias disso até o momento) ela também deverá responder.
É a mesma lógica.
“OS ÁUDIOS MOSTRAM QUE ELA É BANDIDA”
Os áudios não têm, até o momento, a veracidade
comprovada.
"ELA SÓ DENUNCIOU PORQUE O VÍDEO SE ESPALHOU NA
NET"
A jovem, de fato, procurou o traficante nos dias posteriores
para reclamar do sumiço do celular e foi ressarcida. Não prestou queixa de
estupro na delegacia. O fato mostra como o aparato legal do estado - polícia,
Defensoria, Ministério Público, Justiça, secretarias de direitos humanos - está
distante de parte da população, especialmente da que vive em áreas dominadas
pelo tráfico. Só para lembrar, um famoso jogador de futebol da seleção
brasileira caiu num grampo em que pedia providências a um traficante da Rocinha
contra assaltos em São Conrado. No Rio, a sociedade anualmente reverencia
bicheiros envolvidos em todos os tipos de crimes no carnaval. A culpa desta
cultura é da jovem também?
"ELA VOLTOU AO LUGAR DO CRIME... LOGO, NÃO ESTÁ
ABALADA"
A maior parte das vítimas de crimes sexuais e
violência doméstica também não denuncia o crime imediatamente. Algumas vítimas
levam a vida inteira para fazer a queixa e isso não significa que elas sejam
coniventes, cúmplices ou a transformam em responsáveis pela violência. Por isso
é importante não julgar a reação da vítima após o crime.
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