Homofobia: uma epidemia nacional
O
Brasil, conhecido internacionalmente como "exportador" de travestis
para a França e Itália, é um país extremamente contraditório no que se refere
aos homossexuais: em seu lado cor de rosa temos por exemplo a consagração da
transexual Roberta Close, capa das principais revistas nacionais, eleita
“modelo de beleza da mulher brasileira” ; do lado sombrio, há provas de que
neste mesmo Brasil, a cada três dias, um homossexual é barbaramente
assassinado, vítima da homofobia. [1][1]
Nosso
país - que ostenta a fama internacional de ser uma das partes do mundo onde os
gays e lésbicas são mais visíveis e socialmente aceitos - esconde uma
desconcertante realidade: é o campeão mundial em assassinatos de homossexuais.
Nos Estados Unidos, com cem milhões de habitantes a mais que nosso país, entre
1992-1994, foram registrados 151 assassinatos de homossexuais, enquanto no
Brasil, no mesmo período, foram 180 os gays e lésbicas vítimas de crimes de
ódio. Tal número deve ser ainda muito maior, dada a precariedade de nossas estatísticas
criminais.[2][2]
Se
já somam no Brasil 76 Municípios, dois Estados e o próprio Distrito Federal
onde a lei proíbe a discriminação baseada na orientação sexual, uma fantástica e recente conquista do
pequenino mas combativo Movimento Homossexual Brasileiro, infelizmente, tal
proteção legal é ainda letra morta, pois ninguém até hoje foi processado no
Brasil por discriminar homossexuais. E motivos não faltam para que esta lei
fosse aplicada: o principal jornal do Norte e Nordeste do Brasil, por duas
vezes publicou, impunemente, a pena de morte aos homossexuais : “Mantenha
Salvador limpa, mate uma bicha todo dia!”[3][3]
Neste mesmo jornal, o mais homofóbico do país, um jornalista cristão declarou
sem pejo: “Elevar a triste condição dos homossexuais a paradigma de um
comportamento normal, é inadmissível, aberrante, absurdo e revoltante. Lepra,
tuberculose e homossexualismo são doenças combatíveis!”[4][4] Em S. Paulo, o então Deputado
Raimundo da Cunha Leite, do PMDB, declarou: “Os homossexuais não podem ter os
mesmos direitos que têm as pessoas normais!” e o jornalista Ivan Leal, do Rio
de Janeiro, escreveu: “Gostaria de ver todos os homossexuais condenados à morte
em forno crematório e mesmo assim lamentava que sobrassem as cinzas!” [5][5]
Pesquisas
de opinião pública confirmam que, de todas as minorias sociais, os homossexuais
são as principais vítimas do preconceito, mais rejeitados que os negros, judeus
e mulheres [6][6].
79% dos brasileiros inquiridos pelo Ibope/Veja disseram que ficariam tristes se
tivessem um filho ou filha homossexual; 56% mudariam sua conduta com o colega
se soubessem que é gay; 56% não concordam que um candidato homossexual seja
eleito Presidente da República; 47% mudariam seu voto caso fosse revelado que
seu candidato a uma eleição é homossexual; 45% trocariam de médico e dentista
se descobrissem que ele é gay; 36% deixariam de contratar um homossexual para
um cargo em sua empresa mesmo que fosse o mais qualificado[7][7].
Se
a raiz histórica da homofobia no Brasil remete-nos à secular repressão exercida
pela Igreja Católica através da Inquisição, hoje a principal responsabilidade
pela manutenção dos estereótipos negativos e ações discriminatórias contra gays
e lésbicas continuam a ser as principais instituições formadoras de nossa sociedade:
a família, a escola, os órgãos governamentais, a mídia.[8][8] Para que o leitor se convença da
gravidade e institucionalização da homofobia em nosso meio, e da urgência em se
viabilizar estratégias que promovam os direitos humanos das minorias sexuais, arrolamos
a seguir alguns episódios ocorridos apenas em l997, nos quais patenteia-se o
alto grau de violação dos direitos de cidadania dos homossexuais no Brasil.[9][9]
Agrupamos tais violações sob os seguintes temas: tortura e agressões;
discriminação familiar, escolar e religiosa; violência anti-lésbica; golpes e
ameaças; insulto, difamação e propaganda discriminatória; discriminação em
órgãos governamentais; violência contra travestis; repressão à livre
movimentação, privacidade e trabalho; assassinato de homossexuais.
Violação dos Direitos Humanos dos
Homossexuais no Brasil
Tortura
& Agressões
- DENUNCIA DA ANISTIA INTERNACIONAL:
HOMOSSEXUAIS SÃO PERSEGUIDOS NO BRASIL
Ao
lado do Irã, Turquia e Zimbábue, o Brasil é apontado como um dos países que
mais persegue e discrimina os homossexuais, de acordo com o Relatório da
Anistia Internacional. Diz o Relatório: “no Brasil centenas de membros das
minorias sexuais foram assassinados nos últimos anos” [Jornal do Brasil,
23-6-97; O Globo, 24-6-97]
- MILITAR GAY SOFRE AGRESSÃO E VAI
PARA UTI
O
Tenente Coronel Zani Maia, 47, Comandante do Regimento Sampaio, após ter sido
flagrado em setembro/96 em seu carro mantendo relações homoeróticas com um
balconista, foi expulso das Forças Armadas. O Coronel Hugo Coelho de Almeida,
do Rio de Janeiro, sugeriu a pena de morte contra o Comandante. Alguns meses
depois, na esquina da Rua Padre Manoel da Nóbrega, sofreu um golpe com um
paralelepípedo na cabeça, ficando com a testa fraturada, edema nas pálpebras e
traumatismo craniano. Internado na UTI do Hospital Central do Exército,
permanece diversas semanas em estado de coma. Segundo opinião do Deputado
Fernando Gabeira, suspeita-se que o crime esteja relacionado ao fato de o
militar ser homossexual. O deputado quer que a Câmara acompanhe todos os casos
de morte envolvendo homossexuais, porque segundo ele, a polícia geralmente não
trata esses crimes com seriedade.”[O Globo, 8-9-97; Veja, 16-4-97]
- MILITANTE GAY É AGREDIDO POR
POLICIAL EM SP
O
presidente do Grupo 28 de Junho de Emancipação Homossexual, Eugênio Ibiapino
dos Santos foi abordado por policiais na Praça da República, no centro de SP, e
ao identificar-se como ativista gay, foi vítima de insultos verbais e vários
tapas na nuca. [Registro de Queixa na 3a Delegacia de Polícia, SP,
25-2-97, Boletim n.001566/97]
- ATOR É AGREDIDO POR CAUSA DE
PERSONAGEM HOMOSSEXUAL
O
ator André Gonçalves foi barbaramente agredido e ameaçado de morte por ter
representado personagem homossexual numa novela da TV-Globo. Os agressores
fazem parte de um grupo que há meses o xingava, zombando de seu personagem.
“Eles me jogaram no chão, deram tapa na cara, mata-leão e quase quebraram meus
braços.”[O Globo, 8-1-97]
- GAY TORTURADO VAI PARA A UTI EM
SALVADOR
O
gay F.T., de Salvador, foi encontrado em seu apartamento amarrado numa cadeira,
tendo sido espancado, queimado com cigarro, seus pulsos quebrados e com grave
golpe na cabeça, sendo socorrido dias depois, em estado de coma. Por medo do
escândalo familiar, não registrou queixa na polícia. [Denúncia registrada no
Grupo Gay da Bahia, dezembro/97]
- JOVENS DE BRASÍLIA CONSIDERAM NORMAL
AGREDIR GAYS
Pesquisa
realizada pela Unesco comprova que apenas 12% dos jovens de Brasília consideram
crime humilhar travestis, prostitutas e homossexuais. Uma prática muito
difundida entre os adolescentes de classe média de Brasília são as surras que
aplicam em travestis e gays. No Distrito Federal, as travestis fazem ponto nos
setores Comercial, Hoteleiro e de Diversões, locais com pouca iluminação e
deficiente policiamento. Marcelo Kalil, 29 anos, disse que já presenciou este
tipo de agressão. “Vi um cara quebrar um taco de beisebol nas costas de uma
bicha, pela janela do carro em movimento. Foi uma selvageria. “ [Ag. Jornal do
Brasil, 25-11-97; O Globo, 27-4-97]
- ANISTIA INTERNACIONAL DENUNCIA
EXTERMÍNIO DE GAYS EM MACEIÓ
A
Anistia Internacional incluiu na categoria de Urgent Action a denúncia de execuções extrajudiciais de
três homossexuais de Alagoas, José Miguel dos Santos, 18 anos, Husles Souza
Santos e outro não identificado. Aos 10-6-97 as travestis Aleska e Fabiana
foram conduzidas à 2a DP da Polícia Civil onde foram torturadas
barbaramente por três policiais sob alegação de não terem pago o pedágio à
polícia. Foram forçados a limpar a delegacia, inclusive privadas imundas.
[Anistia Internacional, Urgent Action 236/97, AMR, 19-19-97 de 25-7-97]
- GANGUE ATACA HOMOSSEXUAIS NO RIO
Uma
gangue de rapazes jovens de classe média, com noções de artes marciais, está
sendo investigada pela polícia como suspeita de ser a responsável pelos ataques
a homossexuais freqüentadores de bares gays em Botafogo. No mês de julho/97,
segundo denúncia do Grupo Arco Íris, 15 gays foram vítimas de agressões, dos
quais 7 registraram queixa na delegacia. Dois deles, G, 47 anos, funcionário de
Recursos Humanos de uma empresa da Zona Sul, e o garçom M, 24, foram atacados a
socos e pontapés na Rua Voluntários da Pátria, na madrugada de 29-7, ao sair do
Bar Jumping Jack, na Rua Real Grandeza. Segundo as vítimas, os agressores
usavam roupa preta, tinham entre 15-18 anos, cabelo cortado à máquina. O ator
F, 26 e o estudante I, 28, ao tentarem socorrer as vítimas, também foram
espancados, escapando num táxi. Em maio do mesmo ano, o fotógrafo P, 32 anos, e
o operador de telemarketing, R, 23, foram espancados também por um grupo de
rapazes na mesma localidade. Apesar do registro de diversas queixas, não houve
nenhuma investigação, declarou o presidente do Arco Íris, Cláudio Nascimento.
[Correio Popular, Campinas, 8-7-97]
- TRAVESTI QUEIMADO VIVO EM S.PAULO
O
travesti Paulo Sérgio de Jesus, 23 anos, dormia com outros colegas num colchão
na passarela da Rua Avanhadava, bairro da Boa Vista, SP, quando rapazes de
dentro de um Passat branco, jogaram álcool em seu corpo e atearam fogo. O
travesti foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia, onde corre risco de
vida. [Correio Brasiliense, 17-10-97]
- DISQUE DENÚNCIA RECEBEU 71 CHAMADAS
DE VIOLÊNCIA ANTI-GAY
O
Grupo Atobá, do Rio de Janeiro, recebeu pelo telefone 021-3320787, 71 denúncias
de maltratos contra homossexuais, entre elas, a do diretor do próprio grupo,
Daniel Pinheiro, que ficou com fraturas nos braços e costelas ao ser agredido
por dois "carecas" no Realengo (zona Oeste do RJ). Outro gay
denunciou ter sido agredido por policiais do exército que policiavam o
Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, e que para humilhá-lo, obrigaram-no
a fazer sexo oral numa travesti, levando uma coronhada no joelho. [Folha de
S.Paulo, 13-8-97]
Discriminação
familiar, escolar, religiosa
- PROFESSOR DE ARTES MARCIAIS NÃO
ACEITA ALUNO GAY
Hélio
Gracie, 84 anos, Mestre de Jiu-jítsu, declarou nas Páginas Amarelas:
“Homossexualismo é uma doença, uma fraqueza que eu abomino, mas não posso
condenar ninguém por ser fraco ou ter um defeito. Alguns alunos eu só descobri
que eram homossexuais depois. Mas os que eram não se manifestavam como tal. Se
tivessem se manifestado, eu rifava: dispensaria o aluno.” [Veja, 8-10-97]
- MÃE EXPULSA FILHO HOMOSSEXUAL DE
CASA
EJSS,
17 anos, morador em Recife, denunciou que sua mãe o expulsou de casa após
surpreendê-lo com o namorado, insultando-o e ameaçando-o de morte. Sem meios de
se sustentar, mudou-se para Salvador para tentar arranjar emprego recebendo
apoio do GGB. [Registro de Queixas de Violência e Discriminação, Arquivo do
GGB, 2-4-97]
- PAI DESERDA FILHO HOMOSSEXUAL
Aos
26-4-97, o homossexual T.A.S., 17 anos, residente em Salvador, BA, após uma
discussão doméstica, sua mãe e irmã telefonaram a seu pai revelando que o jovem
freqüentava boates gays e que era homossexual. Seu pai declarou: “Você morreu
para mim, a partir de agora não pagarei mais colégio particular, nem cursos de
inglês: você escolheu, então fique com os viados!” O jovem disse ser obrigado a
ficar trancado no quarto para não ouvir piadinhas e agressões verbais de seus
familiares. [Registro de Queixa de Discriminação Anti-Homossexual, Arquivo do
Grupo Gay da Bahia, 29-4-97]
- CRENTES DISCRIMINAM HOMOSSEXUAIS EM
OUT-DOOR
O
Diácono José Roberto Martins, da Assembléia de Deus, espalhou pelas principais
avenidas de Maceió uma série de out-doors com os dizeres: "Homossexualismo
é pecado!"[Tribuna de Alagoas, 7-1-97]
- TENENTE É PRESO POR INTERPRETAR
HOMOSSEXUAL.
Carlos
Machado, 31, tenente-dentista da Aeronáutica, foi preso por 15 dias por ter
representado o papel de homossexual na peça Alta Vigilância de Jean Genet e por ter tirado foto na
praia ao lado do uniforme militar. [Folha da Tarde, 4-2-97]
- MINISTÉRIOS EVANGÉLICOS RECUPERAM
HOMOSSEXUAIS
A
Assembléia de Deus divulga a existência de 6 Ministérios dedicados à
recuperação de homossexuais, dirigidos pelo Pastor Carlos Henrique e Maurício
César da Silva. Tais entidades baseiam-se na atuação internacional centralizada
pelo grupo Exodus, dos Estados Unidos. A Associação Norteamerica de Psicologia
condena essas tentativas de “curar” homossexuais [Folha de S.Paulo, 20-4-97]
- GAY E LÉSBICA BARRADOS NA IGREJA
O
Chanceler da Cúria Metropolitana de S.Paulo, Cônego Antônio Trivinho e o
Vigário Geral da Arquidiocese, D. Antônio Gaspar, negam o casamento religioso a
Carlos José de Sousa e Lurdes Helena Moreira, sob alegação de terem provocado
pernicioso escândalo ao se declararem gay e lésbica. Mesmo após terem concluído
o curso de noivos e terem pago as taxas da cerimônia, a Cúria proibiu a
realização do ato. [Jornal da Tarde, 13-3-97; Folha SP, 21-3-97]
Lesbofobia:
violência anti-lésbica
- LÉSBICA É ESTUPRADA E HUMILHADA
PUBLICAMENTE POR POLICIAL
Denúncia
do Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia
Legislativa do Ceará, Deputado Mário Mamede: aos 5-1-97, um agente do Sistema
de Segurança Pública do Ceará prendeu a jovem FLCV, 19 anos, que na ocasião
portava um pequeno canivete tipo chaveiro, quando passeava de bicicleta com sua
amiga, sofrendo a mais vil das humilhações, sendo estuprada dentro da 24a
DP pelo investigador de polícia Sebastião Alves, onde foi obrigada a praticar
sexo oral, vaginal e anal com o mesmo, ficando a jovem com graves seqüelas
físicas e psicológicas. Além das sevícias sexuais, o policial percorreu
diversos bares de Fortaleza, exibindo a vítima e divulgando que a mesma era
lésbica e mantinha relação homossexual com a adolescente NNSM, 17 anos. O pai e
ex-noivo da menor foram à Delegacia onde declararam que a vítima era uma
vagabunda e tinha seduzido sua filha. [Ofício n.0086/97, Assembléia Legislativa
do Ceará; Ofício 024/97 da Executiva do Movimento Nacional de Meninos e Meninas
de Rua ao Ministro da Justiça, Nelson Jobim]
- LÉSBICAS VÍTIMAS DE DISCRIMINAÇÃO
De
acordo com denúncia do Coletivo de Feministas Lésbicas de S.Paulo, através do Projeto Felipa de Sousa de Orientação Jurídica para Lésbicas Vítimas da
Violência e Discriminação, em S.Paulo,
entre Agosto/96-Agosto/97, foram registrados 21 casos caracterizados de
lesbofobia, incluindo as seguintes ocorrências: ameaça de perda da guarda das
filhas no processo de divórcio; pai leva filha de lésbica para exterior;
lésbica ameaçada de expulsão de casa; lésbica ameaçada de ter sua
homossexualidade revelada num processo judicial; lésbica agredida fisicamente
por um membro da família; lésbica obrigada por irmão, de quem é dependente, a
fazer tratamento psiquiátrico; lésbica discriminada no trabalho, é forçada a
pedir demissão; lésbica impedida de visitar parceira doente no hospital;
lésbica ridicularizada em sala de aulas em S.Paulo; lésbica discriminada num
bar por manifestar carinho para companheira; lésbica ameaçada de violência
física pela família de sua namorada; gerente de hotel em SP impede a montagem
de exposição de artigos sobre lesbianismo durante o II Encontro Nacional de Feministas
sobre a Violência contra a Mulher; lésbica é extorquida para não ter sua
homossexualidade revelada à família. [Fonte “Lésbicas, gays e a legislação.”
Coletivo de Feministas Lésbicas de S.Paulo, 1997]
- EMPRESA DISCRIMINA LÉSBICA
A
promotora de vendas Sueli de Jesus A. Silva, 36 anos, foi demitida do emprego
na Indústria de Biscoitos Aymoré e nos Supermercados EPA, de Belo Horizonte,
depois de ter sido tachada de sapatão. Há dois anos ela não consegue emprego e
sobrevive graças a ajuda de amigos. Tudo começou a partir de uma fofoca de que
teria agarrado uma menina na porta do Palácio das Artes, numa festa de fim de
ano da empresa. Aí o gerente dos supermercados divulgou que ela era lésbica.
Sueli entrou com processo na 7a Vara Civil do Fórum Lafayete,
ganhando a causa na primeira instância. [Jornal do Brasil, 15-12-97]
Golpes
& Ameaças
- GAYS E LÉSBICAS SÃO VÍTIMAS DO GOLPE
BOA NOITE CINDERELA
Até
setembro/97 já tinham sido registrados mais de 20 casos de vítimas do golpe
“boa-noite cinderela”, em que rapazes de programa e marginais colocam
sorrateiramente no copo de bebida de homossexuais, substâncias psicotrópicas e
soníferos, praticando a seguir roubos e violência. O mesmo golpe já foi
aplicado em Campinas, Rio, Belo Horizonte, Salvador. [O Globo, 21-9-97]
- INTERNAUTA PREGA ESPANCAMENTO E
MATANÇA DE HOMOSSEXUAIS
Um
estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, utilizando o pseudônimo
de Rancora, divulgou diversas mensagens ultra-violentas contra os homossexuais
e o movimento gay: “Estou criando um grupo anti-gay no país. Eu darei todo tipo
de ajuda e até mandarei dinheiro se você se propuser a matar os gays. Quero
representantes no Rio, S.Paulo, BH, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador,
Recife e Fortaleza. Estou de precisando gente para meter porrada nos infelizes
homossexuais e causar pânico no meio deles. Preferencialmente bichas da cor
negra. Pretendo também incendiar a sede do Grupo Gay da Bahia. Os baianos
geralmente são negros e por isso merecem apanhar dobrado...” Em outro Email, de
3-6-97, Rancora declarou: “Não é difícil espancar um gay. O ideal para espancar
um gay é sair com pelo menos três amigos: use algum tipo de capuz para não ser
reconhecido e leve um porrete. Quando ele estiver passando por alguma rua
deserta, você o segura e o põe dentro do carro tipo furgão. Então vai até uma
estrada para foder com o infeliz. Nunca deixe que perceba quem é você, pois do
contrário terá que matá-lo para não ser denunciado. Dê chutes nele, na cabeça,
barriga, saco escrotal e na espinha. Não tenha medo de aleijá-lo. Você estará
fazendo um bem social. Deixe então o corpo do cara no mato sem que ninguém te
veja. Se matá-lo, afunde o corpo num rio. E não esqueça de tirar as vísceras
para o infeliz poder afundar e ninguém encontrá-lo. Ninguém deve te ver e saber
quem você é!” A Reitoria da UFJF abriu sindicância mas até dez/97 ainda não
revelou os resultados. [Jornal do Brasil, 19-8-97]
- PRESIDENTE DO GRUPO GAY DE ALAGOAS
RECEBE AMEAÇA DE MORTE
Marcelo
Nascimento, Presidente do GGA, um dos coordenadores do Fórum Permanente contra
a Violência, recebeu ameaças de morte através de uma ligação telefônica, onde
disseram: “’É melhor você e o advogado Pedro Montenegro se afastarem das
investigações dos assassinatos de homossexuais porque os policiais inocentes
não estão gostando disso. Nós sabemos onde vocês moram e em reunião os
policiais decidiram fuzilá-los.” [Gazeta de Alagoas, 17-6-97]
Discriminação
nos órgãos governamentais
- PRESIDENTE DO PFL E DEPUTADOS
INSULTAM HOMOSSEXUAIS
“Deputados
promovem algazarra ao votar proposta de casamento gay ” foi a manchete de
vários jornais que registraram o preconceito de nossos parlamentares frente ao
projeto da Deputada Marta Suplicy, onde piadas e risadas eram incompatíveis com
o ambiente. O Deputado Inocêncio Oliveira (PFL/PE) levou o plenário à loucura
quando subitamente começou a esbravejar contra a aprovação do que chamava de
“casamento gay”, declarando: “Este projeto é uma pouca-vergonha, um desrespeito
à Casa, é uma aberração contra a natureza!” gritava, embalado pelos aplausos e
urros dos deputados que ocupavam quase todo o plenário. Enquanto isto, o
Deputado Severino Cavalcanti (PPB/PE), o mais ardoroso opositor à proposta,
elogiava o Presidente do PFL: “Inocêncio, você é a glorificação do homem de bem
e meu candidato ao Senado!” O Deputado Nilson Gibson (PSB/PE) gritava: “Vamos
votar é agora mesmo este projeto, queremos saber a verdade da Casa, quem é quem
nesta casa”, pregando uma espécie de caça às bruxas e insinuando que os
deputados que votassem a favor do projeto seriam homossexuais, enquanto o
deputado Nelson Marquezzeli (PTB/SP) repetia aos gritos “baitola”, “baitola”.
Ao defender o projeto de Marta Suplicy, o deputado Luiz Eduardo Magalhães
(PFL/BA) recebeu de Inocêncio Oliveira o comentário depreciativo: “O Luiz
Eduardo é mais evoluído do que eu, porque nasceu em Salvador. Eu sou de Serra
Talhada!”[Jornal do Brasil, 6-12-97; A Gazeta, Vitória, 6-12-97]
- HOMOSSEXUAIS CONTINUAM DISCRIMINADOS
NAS FORÇAS ARMADAS
Segundo
o Capitão de Mar e Guerra Wellington Liberatti, diretor de relações públicas da
Marinha, “a política de exclusão de homossexuais destina-se a preservar,
promover e proteger valores e interesses legítimos das Forças Armadas e não há
a mais remota razão para qualquer revisão desta conduta.”[O Globo, 11-5-97]
- DETENTO HOMOSSEXUAL É PUNIDO NO
PARANÁ POR BEIJAR AMIGO
O
Conselho de Prisão de Curitiba puniu com 10 dias de isolamento e a suspensão da
visita ao preso José Antônio G. Silva, 38, por ter se despedido de seu
companheiro com um beijo. Antes havia-lhe sido negado o encontro íntimo com o
mesmo. [O Estado de S.Paulo, 14-2-97; Jornal do Estado do Paraná, 3-3-97]
- CONSULADO NORTE-AMERICANO DISCRIMINA
TURISTAS GAYS
O
Vice-Cônsul do Consulado dos EUA, Robert Olsen, demitido em l994, denunciou
existirem ordens superiores orientando a negar visto a negros, chineses,
descendentes de árabes e homossexuais. “Rapazes solteiros, de cabelo comprido e
brinco na orelha tinham poucas chances.” [Veja, 21—5-97]
- CINCO MARINHEIROS GAYS DO ESPÍRITO
SANTO SÃO PROCESSADOS
O
cabo Rildo Duarte e quatro grumetes acusados pelo Ministério Público Militar de
usarem as dependências da Escola de Aprendizes do Espírito Santo para a prática
de atos homoeróticos, foram enquadrados em processo por desrespeito ao Código
Penal Militar. “O comportamento homossexual é incompatível com os valores de
hierarquia, disciplina e moralidade das Forças Aramadas”, define o Ministério
da Marinha. A Juíza Maria Lúcia Karam, da 2a Auditoria Militar do
RJ, rejeito a denúncia mas o Ministério Público Militar recorreu ao Superior
Tribunal Militar. [O Dia, 9-9-97; O Globo, 17-9-97]
- POLÍCIA NÃO INVESTIGA ASSASSINATO DE
HOMOSSEXUAL
O
gay Sidkley Passos dos Santos, (Brunela), 19 anos, residente em Lobato,
Salvador, foi barbaramente torturado, castrado, e encontrado morto com um
pedaço de madeira dentro do ânus, e apesar dos ofícios de denúncia enviados
pelo Grupo Gay da Bahia à Secretaria de Segurança Pública do Estado, não
constou registro policial na Delegacia da área onde foi assassinado nem foram
realizadas diligências para esclarecer o homicídio. [Ofício do GGB à Secretaria
de Segurança Pública de Salvador, 14-4-97]
Travestifobia:
violência contra travestis
- TRAVESTI ATROPELADA É ESPANCADA NA
DELEGACIA
A
travesti Jéssica Mastroiani Fife, 22 anos, denunciou junto ao GGB em reunião da
Associação de Travestis de Salvador (ATRAS) que sofrendo um atropelamento na
orla marítima de Salvador e perdendo os sentidos, foi colocada numa viatura
policial e em vez de ser levada para o Pronto Socorro, conduziram-na à 7a
DP onde foi espancada, ficando com várias escoriações pelo corpo. Segundo Lena
Oxxa, Coordenadora da ATRAS, “as travestis de Salvador constantemente são
violentadas por policiais, levadas para praias distantes, espancadas e
obrigadas a beber água salgada.”[Tribuna da Bahia, 28-11-97]
- GUERRA AOS TRAVESTIS EM GOIÂNIA
O
Primeiro Distrito Policial com apoio do Serviço Reservado da Polícia Militar de
Goiânia prendeu 8 travestis acusadas de vadiagem e de estarem fazendo
estripulias na Avenida Parnaíba. O Delegado Roberto Neme disse que “não
pretende dar trégua aos travestis e disse ter recebido ordem do Diretor Geral
de Polícia Civil, Dr.Hitler Mussolini (sic!) para prender também os michês e
rapazes que ganham dinheiro para fazer programas com homossexuais. O
tenente-coronel disse que tinha ordens de tirar de circulação todos os
travestis que permanecem nas proximidades da Praça e ao longo da Avenida
Anhanguera. [Diário da Manhã, 5/6-2-97]
- VINTE TRAVESTIS PRESOS EM CURITIBA
A
Delegacia de Ordem Social de Curitiba realizou na madrugada de 7-3 a Operação
Profilaxia, no centro da cidade, ocasião em que foram detidos 20 travestis e
encaminhados ao Juizado Especial Criminal. [Jornal do Estado, 8-3-97]
- GUARDA MUNICIPAL ABRE GUERRA AOS
TRAVESTIS NO RJ
Por
determinação do Prefeito Luiz Paulo Conde, a Guarda Municipal deflagra uma
série de operações visando reprimir a prostituição: ”os travestis e prostitutas
flagrados serão detidos e encaminhados à 9a DP”. [O Globo, 25-3-97;
26-3-97)
- SEIS TRAVESTIS SÃO DETIDOS EM CUIABÁ
Policiais
da Delegacia de Costumes detiveram seis travestis que faziam ponto nas Avenidas
Tenente Coronel Duarte (Prainha) e na 15 de Novembro (Porto). Foram detidos 6
travestis e levados para a DP Metropolitana de Cuiabá. [Folha do Estado,
Cuiabá, 19-3-97]
- TRAVESTI SOFRE ATENTADO EM CURITIBA
A
travesti Yasmin Borboleta, (Ronaldo Vidal, 30 anos, foi atingida com um tiro no
peito, em frente a Praça do Ouvidor Pardinho, no bairro do Rebouças, em
Curitiba, acusando como autores do atentado rapazes que estavam dentro de um
Gol branco. [O Estado do Paraná, 22-8-97]
- POLÍCIA AFASTA TRAVESTIS DA RUA NA
VISITA DO PAPA
Durante
a última visita de João Paulo II ao Rio de Janeiro, a PM carioca retirou
travestis e prostitutas de Copacabana e da Glória, ameaçando os desobedientes
com prisão durante o período da visita papal. A travesti Dandara, 22 anos, perguntou:
“Vou ter de usar roupa de homem para sair na rua?” [Correio Popular, Campinas,
2-10-97]
- TRAVESTI BALEADA EM BAURU, SP
O
travesti Adilson Miranda Jackson Jr, 18, afirmou que o PM Clayton Thomaz
Ferreira, 24, foi o autor do disparo que atingiu suas pernas e mão direita no
dia 22-3 próximo ao Cemitério da Saudade. A vítima alega que o policial recusou
pagar os R$10, 00 pelo programa. O PM para despistar o crime, trocou o cano da
arma. O PM ficou em prisão administrativa no CPA/I-9. [Jornal da Cidade, Bauru,
18-4-97]
- TRAVESTI LEVA TIRO EM SP
A
travesti Amanda, 22 levou três tiros no ombro e peito, de um cliente, armado
com uma 765 automática, na Avenida Indianópolis em out/97 e outra travesti,
Bárbara, levou um tiro na perna de um cliente que não queria pagar pelos
serviços sexuais. [Folha de S.Paulo, 23-11-97]
- CASA DE TRAVESTI É CRIMINOSAMENTE
QUEIMADA EM GOIÂNIA
Um
incêndio ocorrido na Rua Jaó, 61, Vila Coronel Cosme, em Goiânia, destruiu
completamente a casa da travesti GMS, “Gláucia”, sendo acusado o marginal
Amarelinho como o principal suspeito de ter ateado fogo, pois tinha prometido
roubar o travestis, arrombando a porta da casa horas antes. [Diário da Manhã,
5-5-97]
- MORADORA É PROIBIDA DE RECEBER
TRAVESTIS NO APARTAMENTO
“A
enfermeira Adalgisa de Santana Ribeiro, militante da organização não
governamental Água Viva, que presta assistência a travestis e portadores de
HIV/Aids, promove reuniões de esclarecimento em sua casa. O síndico de seu
prédio, no Catete, RJ, a denunciou ao proprietário do apartamento e distribuiu
circular entre os condôminos, dizendo que ela recebia pessoas estranhas que
estavam comprometendo a segurança dos moradores. A enfermeira teve de contratar
um advogado para defender-se das acusações.” [O Globo, 21-9-97]
- TRAVESTIS DE SALVADOR SÃO VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA POLICIAL
Nos
Arquivos do Grupo Gay da Bahia constam os seguintes Registros de Queixa de Violência e Discriminação de que foram vítimas as travestis: Cláudia Horrana, 23 anos, permaneceu
mais de duas horas dentro do xadrez de uma viatura policial (n. 1818) sendo
abandonada numa estrada deserta, altas horas da madrugada, simplesmente porque
estava fazendo pista na Pituba, na orla de Salvador, 8-9-97; na mesma noite,
Carol Igor, 26 anos, fazendo ponto da Pituba, foi levada numa viatura para a 7a
Delegacia do Rio Vermelho, onde policiais obrigaram-na a fazer sexo oral com os
mesmos, extorquindo-lhe R$15, 00; Débora Cazumbar, 25 anos, foi espancada nas
costas por um PM branco de 30 anos, o qual lhe deu coronhadas, disse que
merecia morrer, extorquindo-lhe R$40, 00 em 21-8-97 e R$30, 00 aos 27-8-97;
Fabíola, 29 anos, aos 21-8-97 declarou que policiais da viatura n.1623,
roubaram-lhe R$35, 00, agarraram-na pelos cabelos e a jogaram nas pedras na
Orla da Pituba, ficando com profundos cortes e cicatrizes nas pernas e uma
semana após, foi novamente espancada nos rins e nádegas, levando soco no
ouvido, sendo extorquida por policiais que lhe levaram um relógio e R$20, 00,
28-8-97; Gabriela, 24 anos, foi espancada por um PM num matagal nas imediações
da Rodoviária de Salvador, que lhe roubou o celular e a féria da noite, ficando
com uma mão quebrada, a 21-8-97; Tailane Keli, 16 anos, foi espancada nas
pernas por um PM de nome José Luiz, viatura n.1628, que lhe roubou máquina
fotográfica e dinheiro, a 28-8-97; Débora Rios, 18 anos, foi agredida por
policiais na Pituba, os quais disseram estar se vingando por terem sido
denunciados, a 4-9-97; André Sousa dos Santos, estava sentado com seu namorado
na Praça da Piedade, quando um policial à paisana começou a agredi-los e com o
auxílio de outro policial, os quais deram cinco tiros nos dois, levando um para
a 1a.Delegacia e o outro para o Hospital Geral do Estado, sendo
ainda espancado na viatura e exigiram R$5, 00 para colocar gasolina, a 6-10-97.
Insulto,
difamação e propaganda discriminatória
- ARCEBISPO DE MACEIÓ OFENDE
HOMOSSEXUAIS
D.Edivaldo
Amaral, arcebispo de Maceió, declarou: “A união de homossexuais é uma
aberração. Um cachorro pode até cheirar o outro do mesmo sexo, mas eles não tem
relação. Sem querer ofender os cachorros, acho que isso é uma cachorrada! Esta
é a opinião de Deus e da Igreja.”[O Jornal, Maceió, 27-6-97]
- PROFESSOR DEFENDE EXTERMÍNIO DE
HOMOSSEXUAIS
O
Diretor do Colégio Universitário da Universidade Federal de Viçosa, Laurindo
Silva, escreveu no Boletim do Colégio que os homossexuais deveriam ser todos
exterminados e jogados dentro de uma cova e cobertos com água ráz para não
sobrar nem os ossos. [Informação prestada por um professor da UFV, nov/97]
- JORNALISTA DIZ QUE GAYS SÃO
REPUGNANTES
O
jornalista José Augusto Berbert, do jornal A Tarde, “o maior do Norte e
Nordeste”, que por duas vezes escreveu: “Mantenha Salvador limpa, mate uma
bicha todo dia!”, agora declarou: “Num debate com estudantes, pediram que eu
definisse os invertidos com uma só palavra: são repugnantes, respondi. E fui
aplaudido de pé!” Comentando o filme Mutação, disse que “se para acabar com a Aids,
descobrissem pessoas com genes modificados e os usassem contra os boiolas,
poderia acabar com as bichas mas provavelmente surgiria coisa ainda pior,
embora seja difícil se imaginar o que pode ser pior que os falsos-ao-corpo.”[A
Tarde, 8-7-97]
- VEREADOR ACUSADO DE SER GAY É
DISCRIMINADO
Em
Pedrinhas, Sergipe, o vereador Irecê Messias, 31 foi vítima de calúnia,
perseguição e discriminação sexual. Influente família local, Alves Andrade,
ligada ao PFL, fez proposta de suborno a um rapaz da cidade para manter contato
mais íntimo com o vereador a fim de descobrir eventuais amizades homossexuais
para dar publicidade ao escândalo. Chegaram a divulgar a calúnia de que o
vereador usava a associação de moradores para fazer reuniões de um grupo de
homossexuais e praticava prostituição infantil. [CINFORM, Aracaju, 30-6-97]
- CARDEAL DO RJ DIZ QUE HOMOSSEXUAIS
TEM ANOMALIA
O
Cardeal-arcebispo do RJ, D. Eugênio Salles, afirmou que ”os homossexuais têm
anomalia e a Igreja é contra e será sempre contra o homossexualismo.” O Grupo
28 de Junho, de Nova Iguaçu registrou queixa na 52a Delegacia de
Polícia de Nova Iguaçu (RJ) contra o Arcebispo que se auto-intitula “xerox do
Papa”. [Protocolo E-09/7344/1052/97; SESP-CPB - 52o DP; Jornal do
Brasil, 10-8-97;O Dia, 1-10-97; Jornal do Grande ABC, 2-10-97]
- DEPUTADO PASTOR DIZ QUE
HOMOSSEXUALISMO É IMORALIDADE
O
deputado H.Takayama (PFL/PR) pastor da Assembléia de Deus, declarou: “O
homossexualismo é uma anomalia e a Casa de Leis do Paraná não pode descer a
este nível tão baixo e aprovar esta imoralidade que por si só, é
inconstitucional e choca-se com a Constituição Maior contida nas Sagradas
Escrituras que condena tais atos de espíritos imundos e das profundezas das
trevas.” Num cochilo da oposição, os deputados aprovaram a moção de repúdio ao
Projeto da Deputada Marta Suplicy, moção que em dias posteriores foi rejeitada.
[Folha de Londrina, 16-4-97]
- VEREADOR EVANGÉLICO CONSIDERA IMORAL
UNIÃO CIVIL
O
vereador evangélico Paulo Emílio (PSD/Praia Grande/SP) apresentou requerimento
em repúdio ao Projeto de Parceria Civil Registrada entre pessoas do mesmo sexo.
“Reconhecer legalmente tais uniões significará a concordância da sociedade
brasileira com situações anormais e imorais.”[Gazeta da Praia Grande, 20-4-97]
- VEREADORES DE BAURU REPUDIAM UNIÃO
HOMOSSEXUAL
Por
16 votos a 4, os vereadores de Bauru, SP, aprovaram a moção de protesto ao
projeto de lei sobre a parceria civil registrada. O autor da moção, o vereador
Luis Carlos Vale (PPB) afirmou que a união de homossexuais infringe a Lei
natural da vida. [Jornal da Cidade, Bauru, 7-5-97]
- PSIQUIATRA DIZ QUE HOMOSSEXUALISMO É
DOENÇA
O
Psiquiatra pernambucano Lamartine Holanda disse num programa de televisão “ o
homossexualismo é doença e deve ser tratado”, em total contradição com o
Conselho Federal de Medicina que desde l985 retirou a homossexualidade da
classificação de doenças. [Jornal do Commércio, 16-3-97]
- PARTIDO CRISTÃO FAZ MANIFESTO CONTRA
UNIÃO HOMOSSEXUAL
O
Presidente do Partido Progressista Cristão, Eurípides Farias, no Manifesto do
PPC, declarou que “casamento de macho com macho é semente de satanás!” [Correio
Brasiliense, 28-3-97]
Contra
a liberdade de movimento, associação e trabalho
- PM PRENDE CABO QUE NAMORAVA GAY
Agentes
policiais da ROTA prenderam em Campo Belo, zona sul de SP, o cabo Eduardo
Aparecido Teixeira, do 12o Batalhão da PM, e o Ajudante geral
Francisco dos Santos Limeira, ambos de 30 anos, após um morador do local ter denunciado
à polícia que os dois trocavam carícias na rua. Ambos foram detidos pela Rota
09106 e levados ao 27o Distrito, Ibirapuera, onde a delegada
registrou ocorrência, obrigando os dois a se apresentar em juízo. [Diário
Popular, 15-10-97]
- TRAVESTI É IMPEDIDA DE ANUNCIAR NO
JORNAL A TARDE
A
Travesti Lena Oxxa, atual coordenadora da Associação de Travestis de Salvador,
foi impedida de anunciar na coluna de “encontros” do jornal A Tarde, sob
alegação de que uma Circular Interna da Redação proibiu qualquer anúncio que
caracterizasse relações homossexuais. [Queixa registrada na 1a
Delegacia de Polícia de Salvador, 29-12-97]
- GAYS SÃO EXPULSOS DE BAR
André
Vítor e um grupo de homossexuais da cidade Balneário Camboriú, SC, foram
obrigados a retirar-se de uma boate na cidade “para evitar que esse espaço se
tornasse conhecido como boate gay”. [Revista Sui Generis, n.21, 1997]
- BANCOS DISCRIMINAM GAYS
O
bancário A., 49 anos, de Campinas, SP, declarou que a chefia do banco nunca
aceitou sua homossexualidade. Apesar de excelente funcionário, nunca foi
promovido, sendo-lhe proibido atuar no atendimento ao público por considerarem
seu comportamento efeminado. O Sindicato dos Bancários de Campinas recebeu
proposta para que os casais homossexuais sejam beneficiados com os mesmos
direitos dos casais heterossexuais. Segundo o Advogado do Sindicato dos
Bancário de Campinas, Eduardo S. Matias, o Sindicato teve de interferir no caso
de um gay que estava sendo ameaçado de demissão por pintar as unhas e ter
comportamento afetado. [Correio Popular, 14-9-97]
- QUARENTA DETIDOS EM SAUNA GAY EM SÃO
PAULO
A
Polícia Civil de S.Paulo, distrito de Perdizes, invadiu uma sauna gay à Rua
Doutor Cândido Espinheira, 758, neste mesmo bairro, seqüestrando vídeos,
lubrificantes e outros objetos eróticos. Apenas um rapaz de programa presente
tinha antecedentes criminais. A maioria dos presentes eram casados. [O Estado
de S.Paulo, 13-3-97]
- VIGILANTE É DEMITIDO POR SER
HOMOSSEXUAL
O
vigilante Carlos Augusto Félix, 32 anos, foi demitido da Empresa Brasileira de
Segurança de Curitiba, por ser homossexual e portador de HIV. Entrou na justiça
e conseguiu uma indenização de R$7 mil: “Foi uma vitória parcial pois eu
merecia muito mais pela humilhação que passei.” Ele pretendia receber no mínimo
30 mil. O Diretor da empresa declarou: “Fora do trabalho ele poderia fazer o
que quiser com seu corpo, até colocar o revólver e o coldre lá”. [Folha de
Londrina, 5-8-97]
- GAYS PAGAM PEDÁGIO EM MACEIÓ PARA
NÃO MORRER
Segundo
denúncias do Presidente do Grupo Gay de Alagoas, Marcelo Nascimento, Policiais
Civis estão cobrando R$10, 00 dos homossexuais que freqüentam a Av. Duque de
Caxias e Praia do Sobral, sofrendo violentas surras e prisão com algemas os que
recusam pagar. Policiais usam carros particulares para a realização das blitz.
O Presidente do GGA denuncia que as representações enviadas à Secretaria de
Segurança Pública não são atendidas. [Gazeta de Alagoas, 22-6-97]
- POLICIAIS EXPULSAM CASAL GAY DE
PARQUE EM BELO HORIZONTE
Dois
homossexuais dirigiram-se ao PROCOM-BH para reclamar dos policiais que tomam
conta do Parque Municipal mandaram-nos se retirar do Parque simplesmente por
serem gays e estarem conversando em local isolado. [Hoje em Dia, 3-5-97]
- SEGURANÇA IMPEDE GAY DE ENTRAR NA
PRÓPRIA CASA
Em
Salvador, no Conjunto Sussuarana, Bloco I, o homossexual Roque da Silva, 35
anos, comerciário, foi impedido de entrar em sua própria casa e ameaçado com
arma em punho por um segurança do condomínio, por estar acompanhado de outro
gay. [Registro de queixa de Discriminação Anti-Homossexual, Arquivo do GGB,
30-4-97]
- HOMOSSEXUAIS SÃO OS MAIS
DISCRIMINADOS NO TRABALHO
Segundo
denúncia da TV-Globo, em Pernambuco, os homossexuais são as maiores vítimas da
discriminação entre candidatos em exames de seleção para empregos. Em Belo
Horizonte, segundo a Consultora em Recursos Humanos, Elizete Araújo, pesquisa
realizada em l994 comprova que mais de 20% das empresas não contratam homens
solteiros acima de 35 anos - “uma objeção velada contra o homossexual”. [Jornal
Nacional, TV-Globo, 21-4-97; Estado de Minas, 5-10-97]
- GAYS HUMILHADOS EM BOATE NA BAIXADA
FLUMINENSE
Aos
4 de agosto de l997, vários policiais civis e militares invadiram a boate gay Por Opção, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense e
levaram detidos 102 homossexuais, obrigando alguns dos presentes a fazer sexo
oral com os policiais. Os freqüentadores foram forçados a sair para a rua de
mãos dadas, sob uma sessão de piadinhas e xingamentos.” [O Globo, 21-9-97]
- MILITANTE GAY É DISCRIMINADO EM
SELEÇÃO PROFISSIONAL
Paulo
César Vieira, 36 anos, costureiro, militante do Grupo 28 de Junho, ao se
inscrever num emprego para a vaga de costureiro na Firma Babbo Modas, R.Carolina
Machado 258, Madureira, RJ, ao chegar sua vez de ser atendido, o gerente da
firma falou na frente de todos presentes: “Agora você saia da fila porque não
admitimos pessoas da sua espécie.” [Denúncia enviada ao Arquivo do GGB por
Eugênio Ibiapino, do Grupo 28 de Junho de Nova Iguaçu, RJ, 10-9-1997]
Assassinato de homossexuais no Brasil -
1997
Conforme
antecipamos, o Brasil é o campeão mundial de assassinatos de homossexuais. O
Grupo Gay da Bahia dispõe de um dossier onde estão documentados 1600 homicídios
contra gays, lésbicas e travestis no Brasil entre 1980-1997. Para 1997 dispomos
de informação documentada de terem sido assassinados 130 homossexuais em nosso
país – um aumento de 4 casos em relação a 1996. Tais números certamente são
inferiores à realidade, pois não cobrem todo o território nacional, faltando,
p.ex., dados sobre o Maranhão, Piauí, Paraíba, Espírito Santo e outros estados
da região norte. Manteve-se a mesma trágica média: a cada 3 dias é assassinado
um homossexual no Brasil, destacando-se nesta listra macabra os estados de
S.Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas.
Homossexuais
Assassinados no Brasil (1997)
|
||||
ESTADO
|
GAY
|
LÉSBICA
|
TRAVESTI
|
TOTAL
|
Alagoas
|
3
|
1
|
7
|
11
|
Amazonas
|
4
|
-
|
1
|
5
|
Bahia
|
11
|
-
|
1
|
12
|
Ceará
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Distrito
Federal
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Goiás
|
5
|
-
|
-
|
5
|
Minas Gerais
|
2
|
-
|
2
|
4
|
Mato Grosso
|
-
|
-
|
1
|
1
|
Pernambuco
|
7
|
-
|
2
|
9
|
Pará
|
3
|
-
|
1
|
4
|
Paraná
|
6
|
-
|
3
|
9
|
Rio de
Janeiro
|
12
|
5
|
3
|
20
|
Rio Grande do
Norte
|
1
|
-
|
-
|
1
|
Rio Grande do
Sul
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Santa
Catarina
|
-
|
1
|
1
|
|
Sergipe
|
2
|
-
|
3
|
5
|
São Paulo
|
14
|
-
|
17
|
31
|
TOTAL
|
82
|
6
|
42
|
130
|
Quanto
à orientação sexual das vítimas, nota-se que as lésbicas representam o grupo menos atingido pelos homicídios - diferentemente
do que acontece na sociedade global-heterossexual, onde as mulheres são as
principais vítimas de violência física e morte. [10][10] A menor visibilidade e o estilo
de vida mais recatado da subcultura lésbica, expõe-nas menos a situações de
risco - exatamente o contrário do que ocorre com as travestis, que por viverem em ambientes mais
violentos, como são as pistas onde fazem trottoir, tornam-se alvo mais fácil de
tais crimes. Proporcionalmente as travestis são as principais vítimas dos
homicídios homofóbicos pois representando nacionalmente número inferior a 8 mil
indivíduos, chegaram a 40 as travestis assassinadas em 1997 - enquanto foram 80
gays assassinados, para uma população estimada em mais de 16 milhões
indivíduos. [11][11]
Quanto
à idade das vítimas, o mais jovem homossexual assassinado tinha 15 anos e o
mais velho, 85, sendo que 5% deles eram menores de idade. A faixa etária mais
vitimada está entre os 25-35 anos - 31%. A idéia de que são sobretudo os
homossexuais mais velhos as vítimas mais constantes de tais homicídios é falsa
pois 86% dos mortos tinha menos de 50 anos.
Os
homossexuais assassinados ocupavam mais de trinta profissões diferentes, de
rico empresário a mendigo - o que comprova a presença da homossexualidade em
todas as classes sociais. 28% das vítimas eram profissionais liberais ou
funcionários públicos, seguidos de 19% de gays que viviam da prestação de
serviços: autônomos, garçons, secretários, etc. Embora via de regra mais de 90%
das travestis no Brasil sejam profissionais do sexo, somente em 7 casos a
notícia do jornal indicava tal ocupação. Seis dos mortos eram cabeleireiros,
categoria portanto muito exposta à criminalidade homofóbica. Apesar das
religiões cristãs condenarem a homossexualidade e as religiões afro-brasileiras
se posicionarem de maneira hipócrita em relação à esta questão, entre as
vítimas, seis ministros religiosos, dos quais, dois pais-de-santo. Entre as
lésbicas, destaque para uma Vereadora de Sergipe, vítima do ciúme assassino de
seu marido.
41%
dos crimes foram praticados com arma de fogo - o que torna tais ocorrências
mais graves, pois o assassino andava armado e em muitos casos houve
premeditação do delito. 28% destes homossexuais morreram vítimas de objetos
perfuro-cortantes: facas, peixeiras, facões, garrafas quebradas e cacos de
vidro, machados. 15% das mortes foram decorrentes de múltiplas causas: tortura,
espancamento, asfixia, mutilações, pedradas, pauladas, coronhadas. 9 gays foram
estrangulados e um teve sua cabeça decepada. Tais crimes de ódio
caracterizam-se pela extrema violência, seja pelo grande número de golpes
desferidos contra a vítima, pela crueldade do ferimento, seja pelo concurso de
diversos modos de violência. Por trás de muitos destes crimes, mais do que a
simples motivação de matar para roubar (latrocínio), ou “queima de arquivo”
(para impedir de ser denunciado pela vítima), evidencia-se claramente a
conotação homofóbica da agressão, o imenso ódio que o “machão” tem do “viado”, seja
porque o considera “descarado”, um traidor da categoria dos machos, portanto
merecedor de violência e morte, seja porque assumiu práticas sexuais e um
estilo de vida que o machão gostaria de assumir mas que pela homofobia
internalizada, reprime e desconta na “bicha” toda sua frustração de homossexual
mal-resolvido. Na maioria dos casos o assassino manteve prévia relação sexual
com a vítima - e não raras vezes, assumiu a posição passiva no ato homoerótico.
Infelizmente
as notícias dos periódicos sobre os autores de homicídios contra homossexuais
são raras e lacunosas. Menos de 30% dos criminosos são identificados quando do
assassinato, daí a dificuldade - acrescida da má vontade da polícia - em
identificar os responsáveis por tais crimes.
Aproximadamente
20% dos autores destes homicídios eram menores de idade - e mataram não para se
defender do assédio sexual de parceiros mais velhos, mas por estarem imbuídos
da ideologia machista que repete: “viado tem mais é que morrer!” O mais jovem
assassino tinha 14 anos! O desdém e agressividade como meninos de rua costumam
tratar os homossexuais quando cruzam seus caminhos, revela o grau de desprezo
com que a juventude se relaciona com a homossexualidade, daí 9 destes
assassinos estarem na faixa entre 14-17 anos.
Quase
a metade destes assassinos tinham de 18 a 24 anos quando mataram algum
homossexual (48%). Tão alta freqüência de delinqüência juvenil explica-se de um
lado pela preferência de muitos gays por rapazes mais jovens, mas maiores de
idade, por outro lado, pela maior curiosidade e atividade sexual dos
adolescentes após os 18 anos, que munidos de sua carteira de identidade,
sentem-se compelidos a explorar novos espaços e experiências relacionais.
Recomendações
Lastimavelmente,
ao término deste relato, somos obrigados a concluir que é muito preocupante a
situação de insegurança dos gays, lésbicas e travestis no Brasil contemporâneo
e extremamente grave a violação de seus direitos humanos. Apesar de nos últimos
anos notar-se uma maior visibilidade dos homossexuais e um crescimento e
diversificação dos grupos de defesa de seus direitos de cidadania, observa-se
um aumento quantitativo e qualitativo da homofobia no país: na última década o
número de assassinatos de gays e travestis aumentou assustadoramente; os
assassinatos homofóbicos tornam-se cada vez mais violentos e sádicos; a
epidemia Aids, identificada como peste gay, provocou ameaçador incremento do preconceito; novos casos de acintosa
discriminação vêm ocorrendo em todo o território nacional; lideranças católicas
e protestantes tornam-se mais e mais intolerantes e opositoras aos direitos de
cidadania dos homossexuais. Um recente exemplo da gravidade da homofobia no
país ocorreu quando o autor destas linhas divulgou na imprensa cinco hipóteses
de que o ex-escravo e herói negro Zumbi dos Palmares, cujo tricentenário foi
comemorado em 1995, provavelmente era homossexual: tal revelação desencadeou
uma série de protestos por parte de lideranças negras, acusando de racista a
possibilidade de um herói guerreiro ser gay, negando a homossexualidade na
África, e culminando com um atentado de vandalismo contra a residência e o
carro do Presidente do Grupo Gay da Bahia. Tal episódio revelou que mesmo em
segmentos sociais onde tradicionalmente se observava maior tolerância às
práticas homossexuais - como entre a população negra, adepta do Candomblé,
religião liderada por incontáveis sacerdotes e sacerdotisas praticantes do
“amor que não ousa dizer o nome” e que conta em seu panteão deuses e deusas
“hermafroditas”, metade do ano homens, a outra metade, mulheres - não obstante,
foram exatamente grupos negros da Bahia os que reagiram mais violentamente
contra a idéia de um herói negro-gay.
Este
quadro tão negativo e preocupante tem uma positiva contrapartida: o recente
incremento do Movimento Homossexual no Brasil, que desde janeiro de l995
institucionalizou-se ainda mais através da fundação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis, quando da realização em Curitiba do 7º Encontro Nacional da entidade.
Além dos gays e lésbicas, já agrupados desde os finais dos anos 70, fundaram-se
recentemente novos grupos de travestis e nosso primeiro grupo de transexuais.
Se a Aids, de um lado, aumentou o estigma anti-gay, esta epidemia trouxe em seu
bojo um fator positivo: proporcionou uma maior visibilidade para os
homossexuais, que de temidos membros de “grupo de risco”, tornam-se, através
dos grupos gays, não apenas as primeiras ONGs a iniciar a prevenção desta
doença, mas também os principais colaboradores do poder público na prevenção da
epidemia. Hoje quase uma dezena de grupos homossexuais desenvolvem importantes
projetos de prevenção financiados pelo Ministério da Saúde através de parceria
com o Banco Mundial. [12][12]
Com
vistas a diminuir e erradicar a homofobia que tão generalizada e cruelmente
grassa em todo nosso meio, o Movimento Homossexual Brasileiro propõe algumas
ações governamentais, que à imitação das propostas para outras minorias
sociais, visam implementar e salvaguardar os direitos humanos e de cidadania
das minorias sexuais. [13][13]
Ações Governamentais em Defesa dos
Direitos Humanos das Minorias Sexuais
Ações
Governamentais a curto prazo
1. Adotar mecanismos de
coleta e divulgação de informações sobre a situação sócio-demográfica dos
homossexuais e o problema da violência anti-homossexual;
2. Proteger os
homossexuais contra agressões e divulgação de idéias discriminatórias, seja
pela imprensa, igrejas ou quaisquer outros meios de divulgação e informação;
3. Proceder a emenda da
Constituição Federal alterando os Artigos 3 e 7 para a incluir a proibição da
discriminação por orientação sexual;
4. Garantir aos
homossexuais a plena capacidade jurídica de assumir cargos em órgãos públicos,
civis, militares e no setor privado;
5. Implementar um
programa nacional de prevenção à violência contra os gays, lésbicas e
travestis, obrigando-se que nas estatísticas policiais haja sempre referência
específica aos crimes perpetrados em razão da orientação sexual das vítimas;
6. Propor a criação de
uma Fundação ou Secretaria de Governo dirigida aos homossexuais, do mesmo modo
como existem para as mulheres, negros e índios;
7. Apoiar a
regulamentação da Parceria Civil Registrada entre pessoas do mesmo sexo,
projeto em tramitação no Congresso através do projeto de lei n.1151/95;
8. Incentivar programas
de orientação familiar e escolar com o objetivo de capacitar as famílias e
professores no sentido de conferir às crianças e jovens homossexuais, o
respeito à sua livre orientação sexual, prevenindo atitudes hostis e violentas
inclusive o uso abusivo de terapias corretivas;
9. Incluir em todos os
censos demográficos e pesquisas oficiais do governo, quesitos relativos à
orientação sexual dos brasileiros;
10. Incluir em todos documentos oficiais e
Programas de Direitos Humanos, a defesa da livre orientação sexual e da
cidadania dos homossexuais, ao lado das demais minorias discriminadas;
11. Apoiar a produção e publicação de documentos
científicos que contribuam para a divulgação de informações corretas e
anti-discriminatórias contra os gays, lésbicas e travestis;
12. Estimular que os livros didáticos enfatizem
que muitos personagens históricos célebres foram praticantes da
homossexualidade, eliminando os estereótipos negativos contra esta minoria
sexual.
Ações
Governamentais a médio prazo
1. Capacitar
profissionais de educação para promoverem em todos os níveis escolares e nos
meios de comunicação, a consciência ética da tolerância das diferenças
individuais, através da destruição do estereótipo depreciativo dos
homossexuais;
2. Promover o
reconhecimento, apoio e defesa do homossexual dentro dos diversos grupos
sociais;
3. Promover campanhas
contra a discriminação (homofobia) e incentivo do reconhecimento das diferenças
individuais nos meios de comunicação de alcance nacional;
4. Promover campanha
junto aos profissionais da saúde para o esclarecimento relativo aos conceitos
científicos e éticos ligados à homossexualidade.
Ações
Governamentais a longo prazo
1. Incentivar ações que
contribuam para a preservação da memória e fomento `a produção cultural e ao
resgate da história da comunidade homossexual no Brasil;
2. Formular políticas
compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade homossexual, e
que acompanhem os direitos e garantias conseguidos pelas demais minorias
sociais;
3. Apoiar a criação de
varas, promotorias e delegacias especializadas em crimes envolvendo os
homossexuais como vítimas da homofobia.
* Luiz Mott é Doutor em Antropologia pela Unicamp, Mestre em Etnologia pela Sorbonne, Professor no Departamento de Antropologia da UFBa, Secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis, Presidente do Grupo Gay da Bahia e Membro da Comissão Nacional de Aids do Ministério da Saúde. Cx.P. 2552 - Salvador, Bahia. luizmott@ufba.br
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